segunda-feira, 23 de março de 2009

Á aqueles que atravancam meu caminho...
Morri!

Com grande pesar anuncio, que ás 16:09 do dia 22 de novembro de 2008, faleceu num lindo sábado de sol, a Humanidade. Ela que há alguns séculos não conseguia caminhar e ficava com os braços juntos ao corpo durante a maior parte do tempo, constantemente vinha reclamando de dores no peito. O fato derradeiro, foi uma briga de “guardadores de automóveis” ou como outras pessoas preferem se referir, “flanelinhas”, onde um deles foi atingido na cabeça por duas pedradas, de onde não parava de sair sangue, chegando a sua face, cobrindo levemente seus olhos. Com a cabeça escorrendo sangue, foi dirigindo-se a rua dos Cataventos da Casa de Cultura Mário Quintana, que é lugar conhecido por sua fantástica torta de limão, acompanhado de elaborados cafés e grande pólo cultural, freqüentado por grandes intelectuais e pessoas cultas da sociedade gaúcha. Após ser atingido na cabeça, “ninguém” (vamos chamar ele assim já que não sei seu nome e acredito que nenhum dos seres de bem que estavam observando esse evento bizarro, também saberiam dizer seu nome) começou a gritar com o guardador que o atingiu, que foi atravessando calmamente a rua dos cataventos rindo, calmo, como se nada tivesse acontecido, sem ninguém (agora não falo do nosso personagem, e sim no sentido de sujeito inexistente), impedi-lo ou interpelá-lo ao menos. Após, ninguém (agora sim nosso personagem) começou a brigar com Deus ou consigo. Pensando melhor, acredito que não foi com Deus nem consigo mesmo a 1ª briga, e sim, com os intelectuais, visto que ninguém (agora falo ninguém, enquanto indivíduos do grupo de intelectuais) entendeu o que estava acontecendo e sendo reclamado, já que não havia sido pedido um minuto de suas atenções formalmente por escrito e em três vias. Ninguém (nosso personagem central) não havia compreendido que seus lamentos, indignações e tormentos não poderiam ser entendidos pelos intelectuais, pois ninguém e os intelectuais vivem em mundos completamente diferentes. Só depois que percebeu essa incomunicabilidade, ninguém começou a praguejar consigo mesmo, por ter feito essas pessoas distintas da sociedade, terem visto algo tão grotesco quanto ele. Rastejando ensangüentado em frente á sala Norberto Lubisco, foi parado por dois seguranças (terceirizados) que foram o interrogar sobre quais eram as suas reais intenções com aquilo que era para os guardas, uma grande encenação. Cada um pegou um braço e uma perna e tocaram-no no calçadão da Andradas. Uma velhinha vendo tudo aquilo, foi se aproximando e ninguém achou que ela ia ajudá-lo. Ela tirou uma nota de dez reais da bolsa, não sem olhar para os lados antes, e entregou, ou melhor, jogou sobre ninguém, mandando-o levantar-se e ir para um hospital. Nesse momento, nesse exato momento, ninguém praguejou contra Deus, pois fora ele, Deus, que numa brincadeira cruel, sugeriu que ela, a Humanidade, se transformasse em menor de idade, negro, aparentemente drogado ou seja um ninguém, defendendo o interesse dos outros, para ela entender que ela já estava morta e não sabia. Não acontecerão cerimônias, nem honrarias, e ela será enterrada em uma cova rasa como indigente, pois ela morreu sem que ninguém a reconhecesse, sem um abraço, sem uma lamentação, com a última frase que deveria ser de conforto em sua direção, sendo uma exclamação: “Aí nesse corpo não deve ter existido um pingo de humanidade sequer!”